Punir o que é certo e premiar a
ineficiência?
A princípio, o título do texto
parece denotar algo impossível e ilógico de acontecer dentro das empresas
atuais, correto? Errado! Vejamos: você trabalha como empregado de empresas há
muitos anos. E você já passou por diversas empresas distintas, tendo assimilado
diferentes culturas e aprendido a usar inúmeras ferramentas de trabalho, sejam
elas físicas ou cognitivas.
Neste caminho, você também foi um
profissional consciente de que não se pode transferir para as empresas a
responsabilidade pelo desenvolvimento de sua própria carreira. Logo, por sua
conta e risco, e capacidade pessoal de planejar e gerenciar seu tempo e seus
recursos financeiros, você realiza várias pós-graduações, conforme vai
percebendo o seu encaixe nas oportunidades de mercado. Você se torna dono da
sua carreira e está livre para tomar as decisões que achar melhor para a sua
vida, independentemente dos eventos de mudanças que às vezes chegam impostas e,
ao mesmo tempo, indesejadas por nós. Em resumo, estamos falando de você ter
maior autonomia sobre a sua liberdade de escolhas profissionais.
O desenvolvimento acadêmico
ocorrendo em paralelo à vivência diária dos desafios da vida organizacional consolida
um ciclo de sedimentação de novos conhecimentos e competências, dentro do seu
bojo de ferramentas e técnicas, que se multiplicam sinergicamente, aumentando a
sua capacidade de resolver problemas cada vez mais complexos. Você consegue
perceber, criar e comunicar soluções eficazes, propondo e planejando ações que
sejam menos custosas, de maior velocidade na implementação dos seus objetivos e
adaptadas minuciosamente a cada contexto e problema específico.
É como se tivéssemos embarcado em
um ciclo infinito e retroalimentado de: (i) perceber fragilidades; (ii) propor
e planejar soluções; (iii) resolver os problemas, e; (iv) gerar novos
conhecimentos para si próprio e para a empresa (exemplo: ciclo PDCA). Você
começa a enxergar o mundo organizacional de uma forma diferentemente holística,
para melhor, passando a ter uma visão mais apurada e crítica, sobre a qual muitos
dos colegas que se sentam na mesma sala de trabalho em que você está não
perceberiam. São numerosas as oportunidades de melhorias nos procedimentos e
processos internos de trabalho, nas formas de distribuição e controle dos
recursos, nas formas de se fazer estratégia e de tomar
decisões, dentre outros aspectos inerentes e diariamente implementados dentro
da vida organizacional.
Todavia, tudo isso tem um preço.
Se você estiver trabalhando em uma empresa cuja cultura organizacional
privilegia o "coleguismo" em detrimento do "fazer o que é
certo", esteja ciente de que você poder estar incomodando e pode muito bem
não estar sendo bem visto pelo seu grupo, passando a ser tratado como uma
ameaça por alguns colegas, despertando invejas e toda uma horda de sentimentos
e posturas negativas. Pessoas mais perspicazes, que têm a coragem de investir a
sua energia e seu conhecimento pessoal em "fazer o certo" acabam
ameaçando o status quo de alguns
colegas menos privilegiados de habilidades. Há empregados e cargos cuja
existência só se explica pela existência de ineficiências, que permanecem ali,
ativas, por anos e anos, drenando os recursos das empresas e impedindo que se criem
novas vantagens competitivas. Portanto, eliminar ineficiências é bom de falar,
mas, nem sempre bom de fazer, pois com elas também iriam embora os
ineficientes.
As empresas que hoje estão
verdadeiramente dispostas (são poucas) a melhorar e a se adaptar às novas
complexidades deste mundo atual compreendem, facilmente, que, em determinados
momentos de sua existência, é aceitável que se suporte as dores dos conflitos e
ataques aos "amiguismos", provenientes das mudanças em execução,
quando está em jogo a atuação de profissionais de elevadas competências
técnicas, que estejam trabalhando na solução de problemas crônicos do passado,
ou na prevenção de ameaças futuras ou, mesmo, na criação de novas formas e
estruturas mais eficientes de trabalho. Neste momento, os "coleguismos"
precisam ser deixados de lado, esquecidos, para que os consultores internos,
verdadeiros faxineiros de ineficiências e de desperdícios, assumam
temporariamente o leme da situação e promovam o bem estar de longo prazo para
toda a empresa. Depois, tudo volta ao normal e as amizades se restabelecem. É a
cura das feridas! Mas, qual enfermidade não passa por um momento de dor,
durante o estágio de cura? O alívio sempre vem depois.
Infelizmente, contudo, algumas
empresas ainda são imaturas no que tange à sua capacidade de aceitar e de
gerenciar os conflitos advindos das ações de melhoria de suas rotinas de
trabalho ou eliminação de duas fontes de desperdícios. Elas simplesmente não
conseguem dar suporte e autonomia às ideias destes isolados
"consultores" e a consequência disto é que estes nobres operários são
friamente minados por alguns de seus colegas de departamento e acabam abandonando
a empresa, ou por decisão pessoal, ou por demissão. Portanto, o resultado é que
bons profissionais acabam indo embora (punição) e maus profissionais conseguem permanecer
sustentando o status quo de suas longevas
ineficiências (premiação).
Autor: Welton Sthel Duque